quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

cássio e cassandra

cássio fitava cassandra;
a sua ciência era a demência e em decadência nada mais fazia senão especar.

cássio casamenteiro era
mas por eras não casou ninguém:
quem acha amores sem nunca achar o seu
ou por loucura ou por s'achar do céu
é homem de ter já vendido o véu
que nunca deu a cassandra.

orfeu pecou por olhar para trás,
mas cássio só o fez por querer ver
os olhos que nunca derramaram por ele.

mal ele nota já vai cassandra lá fora,
de flor na mão de outro rapagão:
cássio chora a um canto,
da alegria que era seu manto
nasce o pobre s. turno
e solta um pranto:
"se por eurídice se desfizeram
cantos, que findem amores que não meus;
se cássio casamenteiro não casa quando quer,
há-de lá casar outro outrem quem quiser;
mas por obra de boda feita
porque quem lhe fizeram a desfeita
há-de morrer há espera da eleita:
a felicidade é coisa estreita
e à direita do céu não há nada."

cassandra toma-lhe a mão,
"ao lado do céu há estrelas p'lo chão.
cheiram a rosas na face dela,
sabe a mel ao som das velas,
parecem corvos mas são musas,
ouvem-se quimeras mas é só música,
quem espera sempre alcança
e quem outros casa não perde esperança:
flores é o que não falta,
mas amor como o que te dou desde criança,
horrores de te perder
e pressa em te alcançar
nunca falta.
volta cássio ao meu regaço,
é desta que vamos casar".

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