terça-feira, 7 de janeiro de 2014

retalhos #23

gostava de não ter fome quando estivesse no teu mundo;
sabes, muito raramente me apetece
outro que não pão
em terrina, longe do veado com açafrão
e dos 2 copos de bons vinhos que me dispõe a tua criada
de bom tom, e fina.
(pão, amor, que por Deus se benze-
e tu contando-lhe o valor como um punhado de cêntimos
que largaste na mala, por nada.)

a paixão serve-se a convidados, tu sabes; e é dissecada
com facas de prata e sorvida em cálices de cristal.
o amor,
e tu não o sabes, amor,
cabe no triste alguidar que nem por seu peso vale,
e peca talvez por leveza, quando se deixa tragar
por olhos cansados e mãos sujas.

mas tu és limpa, amor,
com a tua água-de-rosas adocicada
e com a tua écharpe de penas de coruja.

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